Ter ou não ter centroavante
Eu adorava conversar com um amigo
sobre futebol. Esse meu amigo, cruzeirense, gostava, como eu, da formação sem
centroavante, mas com a presença de um "falso 9", um atacante que
transita mais livremente pelo ataque e meio-campo, mais rápido, que arma,
dribla e finaliza com a alegria de um jogador de várzea no domingo à tarde.
Recentemente esse meu amigo parecia
estar mudando de opinião. No começo, eu achei essa mudança uma loucura.
Pareceu-me que isso aconteceu de forma repentina, sem explicação, pensei até
que havia alguma razão misteriosa para ele defender para mim, seu parça, uma
coisa na qual ele nunca acreditou (ele foi abduzido?, sofreu lavagem cerebral?,
se converteu a alguma seita maluca?).
Apesar disso, o percebo em muitos
momentos fascinado com as jogadas dos "falsos 9", não conseguindo
conter nem esconder sua admiração e sua alegria.
Aos poucos, no calor das discussões
em que nos envolvemos desde que ele mudou de lado, vou percebendo que de fato
ele não mudou de opinião. Acontece que o Cruzeiro tem um "falso 9"
maravilhoso, mas o time contratou recentemente meias laterais que funcionam
muito bem e cruzam melhor ainda. Nessa situação, não ter um centroavante quebra
o time, e o falso 9 do Cruzeiro não conseguia assumir esse papel devido à sua
altura.
Ter ou não ter centroavante: isto
acabou deixando meu amigo confuso. Cruzeirense roxo como ele é, não defender
uma estratégia que dará mais chances de vitória a seu time era um absurdo, e
ele, com todo o seu coração, fazia ferozes defesas à contratação de um
centroavante pelo Cruzeiro. Ao mesmo tempo, sendo ele um amante de um futebol
inteligente e bonito, a todo momento elogiava as virtudes e a supremacia dos "falsos
9" sobre o centroavante tradicional.
Coisas do futebol, essa loucura que
mexe com nossa coerência e com nossa inteligência.